sábado, 29 de maio de 2010


Kumi Oguro


(infiltra-se-me uma letra no acento mudo do peito)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Não imagino outra forma
de dizer o amor senão usando
o que sobra da luz quando as tardes
terminam: são de sombras vagas
todos os versos que te escrevo.

Sandra Costa, A vocação dos homens silenciosos

domingo, 23 de maio de 2010

às vezes, era assim: um travo a relva nos lábios
o verão a aquecer as traves mestras da esperança
e o dedo anelar em fuga tarde adentro

ao compromisso diz-se que sim
mas depois chegam a rotina e os chinelos e os pijamas
de verão e de inverno
e o fogão sujo dos jantares apressados
a nódoa na toalha do vinho bom que faz rir e chorar
falar alto

sempre detestei os vizinhos de orelha pronta à escuta
a criarem desculpas de vão de escadas
para intervirem nos silêncios
presenças dissimuladas quando trazem o sorriso
malicioso escancarado

não conheço já este lugar, esta cidade
eu quero um novo hemisfério para morrer com a certeza
de tudo ter acabado

sexta-feira, 21 de maio de 2010

os anéis desfeitos, da espuma resta a rebentação do corpo
erupções, magma e lava, fogo virulento e o lado esquerdo
doente, transbordam margens enquanto os rios secam, plantemos flores
nos cabelos, assim como quem inventa maio e descobre o verão um pouco à frente

pouco a pouco, o corpo e os lençóis num embrulho, aniversário
lento, soprar de velas e o bolo desfeito, esse gesto de atirar à cara o que foi
feito

a tesoura da poda rente ao peito, raízes, folhas,
sementes
o nascimento dói. quem dá, dá-se. não é feitio. é um (de)feito.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A primeira praia do ano. O primeiro verão. As pedrinhas, reluzentes de sol. O mar. As calças molhadas. O coração desenrolado. O recorte das rochas. A areia nos pés. O sabor do sal nas guelras. (Dá-me a mão.) A pele a ganhar o desenho das roupas. O sorriso. O olhar. E eu salto. Faço um mortal. (Pode ser um beijo?)

*

Não me lembro de ver gaivotas. Mas o coração parecia uma flor revestida a veludo azul.


Joana Linda

terça-feira, 18 de maio de 2010

Celebrar Ian Curtis






















"Os corações falham, os corações jovens falham,
Em qualquer altura, sufocados,
Sobreaquecidos, sobrecansados,
Leva-o depressa, leva-o puro,
Bate as mãos, toca os pés.
Leva-o depressa, leva-o puro,
Leva-o depressa, leva-o puro."

Os corações falham, os corações jovens falham,
Em qualquer altura, gastos,
Na fuga, clandestinos,
Põe a tua mão em lugar seguro,
Deixa a tua mão em lugar seguro.

Ainda mais uma vez,
Ainda mais uma vez e ainda e ainda.
Ainda mais uma vez e ainda e ainda." (...)

Joy Division, Glass (1978)

domingo, 16 de maio de 2010

Há quem acredite, de facto, que entre o amor e o ódio vai uma pequena (grande) distância. Conheço alguém que, quando me encontra, me pergunta frequentemente:

- estás apaixonada ou com raiva?

Há, de certeza, um estado intermédio que essa pessoa desconhece. Aquele lugar nem sempre fácil de encontrar, onde os jardins sucedem aos labirintos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010


foto:menina limão (sem autorização prévia. sorry.)



encosto a face à parede
mais triste do quarto, fiel
guardiã do sol posto.

o coração que me deixaste
é uma casa difícil de habitar.

renata correia botelho

terça-feira, 11 de maio de 2010

poema sobre um dia qualquer

não vamos fugir às mãos
nem ao olhar.

se é isso que o dia nos pede

apertemo-nos:

um só corpo.


e que isso baste.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"you can´t stop time*"

ata-me os pulsos
que o dia cerre os dentes contra a carne do meu corpo




Teresa Sá


parte-se com esperança
fica-se por medo



*THE MONTGOLFIER BROTHERS: JOURNEY'S END

terça-feira, 4 de maio de 2010

baloiçar...

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