quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Quando já nem do amor eu souber escrever. Quando as palavras forem mais densas que a dimensão dos sentimentos, quando este peso duro alcochoar no musgo o cessar da minha fome. Quando for demasiado tarde no exílio dos meus sentires, quando à caneta lhe faltar a tinta do meu corpo em prosa, e da prosa a frase se fizer desfeita no meu peito em branco. Quando, e quanto amor escalpado, vazio como todas as outras peles que desconsolo no meu abandono. Quando já nem do amor eu souber ler, esquecida na lacuna dos teus olvidos. Quando os lugares que por nós imaginei sucumbirem no vendaval das tuas emoções. Deixa ficar a louça gasta dos anos transpostos, deixa ficar a cama desfiada em tapeçaria bordeaux. Deixa ficar um simples copo de água encadeado no reflexo de um caudal maior. Quando já nem do amor me lembrar que me sucedeste, e de dor atordoada sem dedos que me recortem as palavras, eu fingir esquecer que um dia também eu te aconteci - foi porque morri na reunúncia dos teus sentidos.

Alice Turvo, Férreos Transversais, p.44/45



sexta-feira, 21 de outubro de 2011

As pessoas desistem facilmente. Por isso, preferem balançar-se de galho em galho, em vez de reforçarem os ramos da árvore a que um dia já chamaram casa.

foto by nirrimi

quinta-feira, 20 de outubro de 2011


terça-feira, 18 de outubro de 2011


adriano sodré




Dei-me conta de que todos os poemas inacabados eram para ti. Inacabados porque há palavras suspensas nos braços, nos sorrisos, nos olhos. Há palavras suspensas nos lábios. Eu quero que os poemas fiquem inacabados para que as palavras continuem suspensas. À tua espera.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011





foto: Elina Nilsson

Tú has escondido la luz en alguna parte
y me niegas el retorno,
sé que esta oscuridad no es cierta
porque antes de mis manos volaban las luciérnagas,
y yo te buscaba
y tú eras tú
y éramos unos ojos
en un mismo lecho
y nadie de nosotros pensaba en el eclipse,
pero nos hicimos fríos y conocidos
y la noche se hizo inaccesible
para bajarla juntos.
Tú has escondido la luz en alguna parte,
la has plantado en otros ojos,
porque desde que ya no existes
nada de lo que está junto a mí amanece.



Tercer poema de ausencia de Homero Aridjis


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A tua voz na canção dele. E a lua a descer pelos telhados, perseguida por gatos abandonados às canções da noite. Enquanto isso, a minha gata, a preto e branco, desenha-me um abraço no colo.

domingo, 9 de outubro de 2011

(...) eu morri perto de Veneza
e quando atirava pedras aos pássaros sempre me ia
lembrando de ti


Al Berto