sábado, 28 de agosto de 2010
Glen Erler
Um poema à rapariga das árvores devia conter folhas e resina
e vento a sacudir ramos. Um poema à rapariga das árvores
devia conter raízes, terra, bichos, musgo, orvalho.
Uma vontade imensa de azul. Um zumbido de abelha. Uma gota de chuva.
A Primavera.
Setembro, tão perto. Antes que a rapariga caia da árvore
vou escrever-lhe um poema.
Folhas,
resina,
vento,
raízes,
terra,
bichos,
musgo,
orvalho.
Azul.
Zumbido de abelhas.
Gota de chuva.
Primavera.
domingo, 22 de agosto de 2010
The world is a mess
Desiree Dolron
(...)
My head in your arms, oh, my head in your arms
And what difference does it make
If the world is a mess, oh, if the world is a mess?
And what difference does it make
If the world is a mess, oh, if the world is a mess?
Sufjan Stevens, All delighted people raise their hands, EP, 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Há pouco deixaram um manequim feminino na rua. Antes da recolha do lixo, recuperámos a parte de cima e deixámos-lhe as pernas abandonadas. Passados minutos, as pernas rebolaram para a frente de um carro e, de repente, qual Crash de Cronenberg, já nem as pernas se avistavam na vizinhança.
Os corpos são puzzles estranhos. Quem pensa possuir um por inteiro é porque ignora que o todo não é simplesmente a soma das suas partes.
Os corpos são puzzles estranhos. Quem pensa possuir um por inteiro é porque ignora que o todo não é simplesmente a soma das suas partes.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
A minha casa fica num quarto andar recuado,numa rua de uma cidade ao norte. A norte, é onde tudo arde. Há corações inflamados que provocam acidentes, choques em cadeia, assassínios premeditados, assaltos, tráfico de estupefacientes... Vejo quem se venda nas esquinas à espera de ser apanhado no meio de uma rede de tráfico de órgãos: um coração por um rim e talvez não doa tanto a perda.
E hoje recordo-me que as estrelas são bolinhas de sabão sopradas por correntes de ar de todas as janelas e portas abertas nas casas da cidade.
Apago a luz. Acendo a ponta dos dedos e fico a desfiar o copo de gin na varanda da casa.
A minha casa fica num quarto andar recuado. Tenho gatos. A minha casa é uma casa de gatos. São eles que escolhem a música das noites que passo em casa.
A minha casa é uma casa de gatos e de flores que o petit prince colecciona no escritório. Onde dantes cresciam livros nas estantes, agora crescem pétalas e folhas e flores. O sol que amarelecia as páginas dos livros é o mesmo que tempera o nascer e o murchar das flores.
Esta noite plantei um pinheiro num vaso. Terra com pó para fortalecer raízes. Um pinheiro que há-de ser manso como aquele outro que já chegou longe no azul e cresce num rés-do-chão de uma aldeia a sul. A Sul é onde tudo arde. Quer seja Verão, quer seja Inverno.
Porque nós somos árvores, de norte a sul.
E hoje recordo-me que as estrelas são bolinhas de sabão sopradas por correntes de ar de todas as janelas e portas abertas nas casas da cidade.
Apago a luz. Acendo a ponta dos dedos e fico a desfiar o copo de gin na varanda da casa.
A minha casa fica num quarto andar recuado. Tenho gatos. A minha casa é uma casa de gatos. São eles que escolhem a música das noites que passo em casa.
A minha casa é uma casa de gatos e de flores que o petit prince colecciona no escritório. Onde dantes cresciam livros nas estantes, agora crescem pétalas e folhas e flores. O sol que amarelecia as páginas dos livros é o mesmo que tempera o nascer e o murchar das flores.
Esta noite plantei um pinheiro num vaso. Terra com pó para fortalecer raízes. Um pinheiro que há-de ser manso como aquele outro que já chegou longe no azul e cresce num rés-do-chão de uma aldeia a sul. A Sul é onde tudo arde. Quer seja Verão, quer seja Inverno.
Porque nós somos árvores, de norte a sul.
domingo, 1 de agosto de 2010
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