Seja como for, fez-se noite. E frio. É quase Inverno mas ninguém diria que ainda falta o quase. E a música replica o sabor das avenidas, o cheiro da solidão dos corpos. Há uma voz sempre a moldar a cor das paredes, a rasgar a monotonia dos espaços vazios. Quase me deixo rir. Quase me deixo cair. Mas o chão é já ali- não magoa. E sabemos que uma queda sem dor não acrescenta nada ao que podemos vir a saber.
"(...)Quando começou o tempo e onde termina o espaço?
Será que a vida sob o sol nada mais é que um sonho?/Será que o que vejo, escuto e cheiro não é apenas/uma miragem do mundo anterior ao mundo?/Será que realmente existe o Mal e pessoas más?/Como é possível?/
Eu, que sou eu, não existia antes de existir./E, no futuro, eu, que sou eu,/
não serei mais quem eu sou."Lied Vom Kindsein, Peter Handke
in: Wim Wenders, Asas do Desejo
terça-feira, 29 de novembro de 2011
chegas sempre depois, dizes. e eu penso por aforismos. largo-os como quem crava pregos nas paredes para lhes arrancar o estuque. e são essas as marcas que vou esculpindo inverno fora, como se não fosse possível remendar as artérias que nos guiam pelos corredores das casas.sabes sempre como acertar o relógio. como quem acerta o passo na direcção oposta à minha. eu atraso-me. mas apenas na esperança de te encontrar pelo caminho.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
terça-feira, 15 de novembro de 2011
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Morro, ao perder-te nesta fronteira
em que as águas fluem. Saio de entre as cinzas,
levando o brilho de um movimento que
se confunde com a hesitação do ser, enquanto
me pedes que abandone o lastro de inquietação
para que as portas se voltem a abrir. Mas
aonde ir? Em que cafés fechados voltarei
a ver-te, olhando a rua, até que os olhos
se cruzem num novo reencontro? Que
portagem terei de atravessar para restabelecer
o equilíbrio do mundo que uma simples dúvida
fez oscilar no seu eixo e luta para trazer
de volta a sua verdade? Que metamorfose
é ainda possível, neste corpo em que a dissipação
se instalou, e avança, como o fogo nos campos
mais secos de estio? Que abraços se irão
perder nesses parques abandonados, nas
estradas ermas do bosque, ou nesse
velho celeiro onde não fermentam já
as emoções do desejo?
Tu, ainda encostada à janela de onde vem
um último aceno, ouve o grito, com a sua música
terrível, e não percas o que nem os ventos puderam
levar, com a sua tensa respiração.
Nuno Júdice
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
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