quarta-feira, 30 de junho de 2010

Have you forgotten how to love yourself?

red house painters, have you forgotten

sábado, 26 de junho de 2010

Catorze de Junho

Cerremos esta porta.
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço.
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos? O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito.
Não se afastou o tempo. Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo.

José Saramago, inédito de 1986 publicado no Público, 26 junho 2010

terça-feira, 22 de junho de 2010

As mãos regulam o tempo dos relógios.
Há ponteiros que nunca se acertam.
Hoje acordei certa de que o dia avançara uma hora.

Atrasa-me.

sábado, 19 de junho de 2010

Noutro dia, dei-me conta de que estou nesta cidade há tempo suficiente para assistir ao incontornável envelhecer das pessoas. O senhor que passeia o cão no começo da noite. O tipo que pede esmola à hora de sempre. O empregado do café da esquina. A mãe que vai buscar a filha à escola.
Até os gatos envelhecem. Encurta-se-lhes a vida de repente.
A canção sabe a demasiados ontens.
A rua estreita-se.
A cidade estreita-se.
Daqui a nada, perco a oportunidade de morrer "bela e jovem".

terça-feira, 15 de junho de 2010

quando as noites caem sem chuva
a cidade transborda-me e as mãos
desaparecem sem nevoeiro por entre os cabelos das horas
se se acende um cigarro no lusco-fusco das janelas
não resisto à tentação das conversas
em espiral,
os dedos, dois ou três, já serão muitos
e as palavras, confusas de algoritmos,
rebolam dos telhados como estrelas incandescentes

o silêncio é um mito
há demasiado barulho a afagar as cortinas

se me deixares,
descansarei a sede de nuvens no teu olhar

quarta-feira, 9 de junho de 2010

As palavras em trânsito

Resvalas neste sopro.
Sabes
que tens o olhar ferido
desde sempre, que o incêndio
das palavras em trânsito celebra
prescritas sílabas, ancorados
ritos, desprevenidos
equinócios.
Dantes,
havia um mar crispado
na fissura dos lábios. Hoje, apenas
algumas gotas de sal.


Albano Martins




















Ribeira, V.N.Gaia, sem sal

terça-feira, 8 de junho de 2010

Because of the rain

porque é realmente urgente

urgência permanente

eu não quero que te demores a saber por que estou aqui.

eu não quero que explores segredos que nunca encobri.

eu não quero que decores a casa nova que nos construí.

eu não quero que me mostres cores que nunca descobri.

eu não quero que me mostres as cores que eu já esqueci.

eu não quero que te compares com o que eu já vi.

eu não quero que me dês flores na data em que nasci.

eu não quero desses amores que dissecam a vida que vivi.



eu só quero ser urgente em ti.

eu só quero ser urgente em ti.


o renato escreveu e eu sublinho cada linha de verso.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

as artérias labirínticas do coração. e eu sem diploma para evitar a complexa cirurgia do amor.