terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Agora tem-se medo de coisas de nada." A nossa conversa podia ter começado assim. Há alguns meses faria tanto sentido quanto agora. Há coisas que não perdem a sua razão de existir. Como uma canção do Tom Waits. Como um verso de Al Berto. Como os poemas sobre perda e saudade, com cheiro a árvores e livros da Maria do Rosário Pedreira.
A janela tem luz e eu peço nada. O coração rasga-se mas há muito papel nele. A história reescreve-se. E tu cabes dentro dela. Com as minhas mãos à volta dos teus pulsos. Aí, todas as minhas certezas.
Estou a aprender que não ter sede, não ter fome, não tem nada de físico. É um sentimento que me falta. Por isso, antes não ter sede nem fome do que não ter saudades, medo, esperança, amor. Antes a falta de sentimento de sede e de fome do que a ternura ausente. Quero, por isso, esvair-me em ternura. Perder os sentidos do tanto que me vai no sangue. Ter em excesso essas partículas do amor. Sufocar disso. Deixar o coração obstruir-se desses resíduos. Antes isso do que deitar fora a esperança. E acordar na valeta, com luzes de uma sirene comandada por homens que não sabem que o amor é não ter fome nem sede. É, por vezes, muitas vezes, mais do que se pensa, mais do que se desejaria, não ter medo de coisas tão pequenas. Coisas de nada. Como morrer.
Ata-me a Fevereiro para que este mês venha lento e ainda se encontrem sobre as últimas folhas secas caminhos novos.

Tenho os teus sapatos. Não preciso de estrelas cadentes.

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