quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A minha casa fica num quarto andar recuado,numa rua de uma cidade ao norte. A norte, é onde tudo arde. Há corações inflamados que provocam acidentes, choques em cadeia, assassínios premeditados, assaltos, tráfico de estupefacientes... Vejo quem se venda nas esquinas à espera de ser apanhado no meio de uma rede de tráfico de órgãos: um coração por um rim e talvez não doa tanto a perda.
E hoje recordo-me que as estrelas são bolinhas de sabão sopradas por correntes de ar de todas as janelas e portas abertas nas casas da cidade.
Apago a luz. Acendo a ponta dos dedos e fico a desfiar o copo de gin na varanda da casa.
A minha casa fica num quarto andar recuado. Tenho gatos. A minha casa é uma casa de gatos. São eles que escolhem a música das noites que passo em casa.
A minha casa é uma casa de gatos e de flores que o petit prince colecciona no escritório. Onde dantes cresciam livros nas estantes, agora crescem pétalas e folhas e flores. O sol que amarelecia as páginas dos livros é o mesmo que tempera o nascer e o murchar das flores.
Esta noite plantei um pinheiro num vaso. Terra com pó para fortalecer raízes. Um pinheiro que há-de ser manso como aquele outro que já chegou longe no azul e cresce num rés-do-chão de uma aldeia a sul. A Sul é onde tudo arde. Quer seja Verão, quer seja Inverno.

Porque nós somos árvores, de norte a sul.





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